sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Estrada - sem título.

 (mi autoria)

Seus diplomas, seus currículos, seus prêmios como melhor aluno da faculdade, projeto de doutorado, publicações na revista internacional de Sociologia... cada coisa espalhada pelo quarto.
Em cima da cama uma mala,
camisetas,
bermudas,
calças:
desdobradas,
amarrotadas,
dentro da mala.
No chão encontrava-se o tal aluno esforçado, com isqueiro na mão e queimando, lentamente, a ponta de um dos seus diplomas. Queimou só a ponta. Levantou, fechou a mala, calçou um tênis e saiu.
Deixou uma carta, para quando a empregada viesse fazer faxina, lê-se, ou desse para alguém de seus parentes ler:

"Querida Jo,
Provavelmente quando ler essa carta, vou estar com chinelo nos dedos, bermuda, pedindo carona, fumando um baseado barato. Pra onde estou indo? Só Deus sabe!
Sabe Jo, você não foi só uma empregada, alguém que limpava meu quarto, lavava minhas roupas. Você, antes de tudo, foi a pessoa mais próxima de mim, e com toda essa doçura e perfeição que é, aprendi a te amar. Desde quando tinha meus 10 anos você me viu crescer, renascer, aprender, e muito do que aprendi foi contigo.
Sabe o que aprendi Dona Jo? Que eu poderia ter o mundo em minhas mãos: Tenho 26 anos, formado, prestes a conseguir meu Doutorado, cheio de cultura, conhecimento, livros espalhados, horas perdidas de sono por estudos, congressos, seminários...você me acompanhou tudo isso.
Sou considerado pela sociedade uma pessoa de futuro promissor!
Mas...Dona Jo, e a sociedade com minha vida? Porque sei que, enquanto eu for brilhante, serei útil, mas, e quando enfraquecer, adoecer, será que TODOS vão lembrar de mim?
Eu sei que você lembraria de mim, Dona Jo!
E você não lembraria de mim por todos esses títulos, mas sim pelo meu sorriso, olhar, pelo meu carisma, da mesma forma que eu lembraria de você!
De que vale Jo tudo isso, todo esse mérito social, sem o amor? Como eu te amo, como eu me amo, como amo a Deus
O mundo é podre, Jo. Vemos, com os estudos (pelo menos isso) que existem pessoas que passarão a perna em você, sem motivo, e que assim, por pirracice nossa, vamos fazer isso com o próximo ,e o ciclo continuará.
Aprendi que o amor de hoje em dia é eterno enquanto dure sua grana, seu carro, seu material, enquanto dure o interesse do próximo.
Não quero isso Jo. Estou sim, largando tudo isso que conquistei, pra conquistar algo maior: Minha Vida, Minha Essência, Minha Religião.
Se volto? Voltarei, amor como o seu não abadona, mas preciso dessa escapada!
E não se preocupe, sempre que possível, manterei contato, pra mostrar que estou bem
Um beijo, um abraço.
Fica bem, que eu fico bem.
G."

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